Num curto espaço de tempo, surgem na comunicação alguns exemplos de jovens com a perturbação do espectro do autismo. Surge Kodi Lee a vencer o Got Talent e também tivemos a Greta Thunberg a jovem Ambientalista de 16 anos. Ambos foram destacados tendo uma deficiência e, no caso de Greta, até foi considerada de inferior e que seria pouco sensato ouvir os seus argumentos. No entanto, sobre a questão ambiental, isso seria outro assunto. A questão deste texto é: Será que todos os jovens com autismo ganham com estes exemplos?

A Resposta é SIM e Não. Sim pela questão da sensibilização sobre o tema e assunto, mas um Não pela desinformação generalizada, visto que nem todas as crianças com autismo revelam talentos para chegar aos holofotes das televisões. Muitas vezes somos levados a pensar sobre as pessoas apenas pela parte, e não pelo todo. Cada um vê e admite tudo o que confirma seu juízo (...). Vê-se aquilo em que se acredita, não aquilo que se vê. (Rousseau, S/D). Neste sentido, o nosso juízo fica dependente das influências aprendidas. Na verdade, estes jovens são vistos como tendo uma deficiência ou por serem especiais. Aqui nasce logo uma falha enorme, queremos que eles sejam iguais a nós e que entrem num sistema único e fechado, colocamo-nos num patamar superior e com a capacidade de os julgar como especiais ou como com deficiência.

A verdade é que seria o mais correto afirmar que estas crianças têm uma mente diferente e como tal sentem o mundo de maneira peculiar. Só assim conseguiremos ensinar com pedagogia e inibir a nossa má vontade e desrespeito pela criança. Atenção, que não estou a afirmar que devemos seguir sempre os interesses da criança, mas sim respeitá-los e educá-los.

Kodi e Greta, ambos são vistos nos mídia como “Aspergeres” que desde de 2013, na versão do DSM-V (A bíblia dos diagnósticos) deixou de existir. As questões relacionadas com o Asperger deixaram de ser clinicamente diagnosticadas, visto que hoje o critério ocorre num grupo único, “Autismo”, que se caracteriza por um espectro clínico de gravidade que vai desde as alterações muito marcadas até formas ligeiras de défices, distinguido em dois eixos ou na capacidade de socialização ou nas alterações do comportamento.

Atualmente temos disponível no DSM-5, a nomeação Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), que segue dois critérios: (1) Défices ininterruptos na comunicação social e interação social; (2) Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamentos interesses e atividades. Mas voltando ao cerne da questão – Conseguirão todas as crianças do espectro autista ter sobrecapacidades? - "São casos extremamente raros, raríssimos. Situações extraordinárias, uma em milhões", diz Carlos Nunes Filipe, psiquiatra e diretor clínico da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo-Lisboa. 

Muitas das vezes o cinema tem trabalhado com o "autismo" mostrando capacidades sobrevalorizadas. Temos o filme "Rain Man" (1999) onde o Dustin Hoffman é um adulto com autismo com grandes capacidades matemáticas. No filme "Um certo Olhar" a personagem Linda é uma adulta com autismo que tem uma desadequação social na comunicação e que não demonstra sentimentos nas suas palavras, ainda assim muito funcional.


Indo agora para o lado mais jovem, temos na série "The good doctor" estreada a 2017, um jovem adulto que seguiu medicina e que tem uma capacidade de visualizar os passos clínicos com muita minuciosidade. A série transmite em imagens esse brilhantismo e permite ao espectador ambicionar ter essa capacidade, estando esses detalhes muito bem criados e com um papel brilhante do jovem Daniel Dae Kim. Não só no cinema, mas também nos livros deixamo-nos levar pelo lado mais fantástico. Também Oliver Sacks, escreve um capítulo sobre o autismo onde fala de dois jovens que entram no seu consultório, e que a única forma de captar a atenção dos jovens, foi o médico entrar na brincadeira e adivinhar a sequência de números primos que os jovens estavam a ditar.


Não coloco em causa a qualidade dos filmes ou dos livros, compreendo o admirável de retratar um lado quase de superpoderes, mas infelizmente passam ao lado as dificuldades. Sou terapeuta e vivo com as famílias a vontade de querer ver evoluções. De ver as adaptações familiares a surgirem. Vejo um lado muito complicado e igualmente fascinante, que exige sim muito trabalho e esforço, de todas as pessoas envolvidas no processo educativo dessa criança. Vejo no dia a dia, as dificuldades de uma família em encontrar serviços básicos, mas nem todos estão sensibilizados e as portas fecham mesmo antes de tentar. 


Hoje cruzei-me com o filme "Arthur e o Infinito - Um olhar sobre o Autismo" Sobre este filme deixo aqui as palavras do médico - Eu diria que o vosso filho tinha um problema se tivesse dando um diagnóstico de diabetes, o que o vosso filho tem é uma mente diferente. Este filme de 36 minutos, coloca cenas com muito detalhe visual e bem caracterizadas. Mostra uma mãe muito responsável e com vontade de conhecer o filho. Mostra também uma mãe por vezes perdida e sem saber o que fazer, mas sempre com muito amor pelo filho.Todos aqueles que procuram conhecer um pouco de como é lidar com crianças com autismo, e de olhar para o dia a dia de uma criança com hipersensibilidade, deixo a dica… é preciso entrar dentro das famílias para verdadeiramente ajudar.


Deixo aqui uma pequena lista de dúvidas destes pais sobre uma criança com uma mente diferente, de modo a sensibilizar sobre as várias dificuldades destas crianças:

…Ele não come sopa e chora; Nunca come comida verde e separa tudo; Coloca tudo numa ordem;
Abana os braços e coloca as mãos nos ouvidos; Por vezes grita e bate em si mesmo; Devo ou não
contrariar comportamentos?; Posso ralhar?; Devo ou não obrigar?; Como posso comunicar se ele
não fala?; Como posso brincar se ele não compreende?; Como posso ajudar a alimentar-se, se ele
não quer?; Como posso cortar as unhas?; Como cortar o cabelo, se ele grita e bate nele mesmo?;
Tem medo do chuveiro; Fica demasiado tempo a olha para a máquina de lavar roupa, o que faço?;

Sempre que estiverem com uma família de uma criança com Autismo, respeitem sempre a criança e acima de tudo a sua família. Conheçam primeiro a sua história, antes de julgar as adaptações dessa dinâmica familiar. Segue aqui o link do "Arthur e o Infinito" capaz de traduzir alguns desses exemplos de adaptação familiar. 



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