Hoje irei começar o texto logo pela premissa, sendo que a conclusão nem sempre é de resposta única. Advertir uma criança pelo seu mau comportamento é tão importante como recompensar pela sua boa ação. Se imaginarmos que a vida é um palco para a construção da criança, então temos de ser um bom público. Temos de conseguir entregar uma resposta às suas ações. Mas a verdade é que o público nem sempre é todo igual, vão existir pessoas mais ou menos tolerantes (e deixem que vos diga: a educação não passa nem pela tolerância, nem pela ditadura!), sendo que o ideal é encontrar pessoas que leiam o momento de forma real e ponderada. É importante conseguir comparar a intensidade do comportamento da criança para a advertir, isolando o cansaço ou outros fatores internos ao adulto e externos à ação da criança.
A criança não pode ser culpada por frustrações alheias a si, se isso acontecer estaremos a presentear o dissabor da injustiça e a ensinar que também ela poderá agir dessa forma. Passando para exemplos mais concretos, é fundamental mostrar à criança que existem consequências aos seus atos. Ser adulto é conseguir permanecer num mundo rodeado de regras e saber cumpri-las. É abdicar do prazer imediato para obter algo de maior valor; mas lá está, que demora mais tempo. Não podemos ter medo de mostrar ao filho as consequências do mau comportamento, mas… fazendo sempre o caminho para mostrar como podemos voltar a fazê-lo bem. Repreender sem dar soluções, é magoar sem ajudar a pensar. Pensando que o seu filho estraga, ou suja algo, uma excelente forma de o culpabilizar é fazê-lo passar pelo processo de limpar, arranjar ou arrumar. Se deixarmos que as coisas voltem a surgir no imediato, então não estamos a ensinar nem o “como?”, nem o “quanto tempo?”, e com estes dois ingredientes estamos a mostrar o “esforço”.
Mas voltando à temática da palmada. Palmada é procurar agredir alguém quando já não temos argumentos, ou quando achamos que bater é a solução mais forte e imediata para punir um comportamento. Na minha opinião, só podem dar palmadas aqueles pais que sentem a dor de dar uma palmada. É preciso sentir que estamos a gerar dor no nosso filho, e se somos nós próprios a fazê-lo, então temos que o sentir a dobrar. Pegando nas palavras do pediatra Dr. Mário Cordeiro - Uma pequena palmada não é bater, mas “uma prova de amor” e de “mostrar os limites”. Mas ainda assim, não concordo totalmente com a ideia apresentada, e reservo-me dizendo que a palmada não é a forma de traçar limites.
Usar a palmada não pode ser um poste da baliza para criar limites, mas sim algo que nem está em jogo no processo educativo. Para criar limites, é fundamental pensar que sempre que existe um confronto, nasce a possibilidade de gerar o limite. Dando vários exemplos de situações, temos o “sair da mesa”, o “vir para a mesa”, o “comprar brinquedos”, o ”ir tomar banho” , “comer tudo o que está no prato”, entre outras. São infindáveis os exemplos para trabalhar o limite entre a vontade da criança e aquilo que ela pode fazer. É fundamental conversar com a criança e de seguida ouvir a criança, deixar a criança falar permite-nos saber o quando ela entendeu, bem como gerar nela própria um contracto verbal ao limite que lhe foi proposto.
O tema da palmada não fica apenas em duas linhas, muitas das vezes acontece por já existirem capítulos de confrontos e livros de guerras que foram evitados de abrir. Virando o cenário para a família e trocando por miúdos, hoje em dia existe um mercado de trabalho instável que deixa muitos pais sem tempo e espaço necessário para a criança, isto pode gerar culpa no seio familiar, e como tal pode acontecer a superproteção dos filhos.
Mas o mundo da criança é complexo, pode nem ser culpa de uma má gestão das regras e limites. Também podemos encontrar falta de afectos familiares, negligenciando a necessidade de brincar e interagir com as crianças. Muitos adultos já se esqueceram de como é brincar, de como é ser criança e até mesmo acham que a criança não sofre. Hoje ainda vivemos num mundo onde só os adultos têm problemas e dificuldades, exindo à criança ultrapasse as suas coisas sem dar problemas! Vivemos também ainda hoje a ideia que mais tempo na escola, mais aprendizagem. As crianças não precisam de estar tanto tempo na escola para aprenderem.
Em suma, antes de uma palmada na criança, vamos dar duas em nós e pensar se isso vai resultar! É preciso considerar se a palmada é a solução, ou se existem outras mudanças no ambiente da criança que devem ser feitas.
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