Se a emoção não
gerasse uma expressão, então esta seria impune de significado. A função de uma
expressão é a revelação de uma emoção, expressão essa que surge como forma de
comunicação e que tem sempre em vista uma interpretação.
Quando uma
criança chora, o seu choro funciona como um pedido de ajuda que os pais
identificam como sinal de perigo, colocando-os em estado a alerta. De acordo
com a investigadora Katie Young da Universidade de Oxford, o som de um choro de
bebé capta a atenção de uma maneira que poucos outros sons no ambiente são
capazes de o fazer. Esta investigadora confirmou que duas áreas do cérebro
humano (giro temporal médio e o córtex orbitofrontal) activam com mais
velocidade no choro do bebé, do que em relação a outros sons.
Gerar a acção de
um comportamento, não se fica apenas pela emoção mas sim pela intenção do seu
acto. A acção para cuidar do seu bebé com a mistura do próprio desconforto ao
ouvi-lo chorar é a chave para despertar no humano a ideia de prestar um
cuidado. Muitos de nós facilmente identificamos o choro como algo que nos
perturba, seja ele o choro do nosso bebé, ou de um bebé alheio. É claro que não
vou retirar a componente atencional de querer corresponder ao conforto e
carinho da nossa criança, mas a verdade é que estamos programados para não
gostar do choro dos bebés, desencadeando uma resposta mais breve da nossa
parte.
Um outro ponto que
gostava de descrever são as próprias lágrimas, a própria face do bebé
contorcida e a juntar a isso o cerrar dos olhos. Este cerrar de olhos fecha a
oportunidade de recolher a informação visual do mundo, que dificultaria a acção
do mesmo se proteger sozinho perante uma posição de perigo – o que me leva
ainda mais a querer que o choro é uma resposta inteiramente ligada à
receptividade de chamar a atenção do outro, e esperar do outro uma acção.
A emoção e o seu
controlo e descontrolo é uma função cerebral que merece bastante atenção. De
acordo com a neuroanatomista Jill Taylor, nós somos seres emocionais que pensam
e não seres racionais que sentem. Estou inteiramente de acordo, mas a verdade é
que o tema é tão complexo que dando dois exemplos chegamos à sua força: 1) Uma
pessoa deprimida faz uma leitura negativa de acções positivas, 2) Uma pessoa em
delírio faz uso da razão, misturando factos errados sem ponderar a
possibilidade de uma contra-argumentação. Em ambas as situações é possível verificar
um estado de psicopatologia, uma regida mais pela emoção e outra pela razão.
A emoção nem
sempre foi observada com bons olhos, para Kant a emoção era vista como um
defeito da razão. Darwin relatava que a emoção era algo que estava mais exposto
em crianças, nos loucos, nos velhos e nas mulheres. Não farei juízos, mas
falarei no assunto em relação às crianças.
Enquanto terapeuta
faço da minha acção formas de construção e orientação do outro. Observo
crianças a experimentarem o mundo ao sabor da sua fonte de prazer, onde por
vezes ainda não têm maturidade suficiente para compreender a posição do colega,
ou até mesmo para fazer do uso da palavra a tradução da sensação. Aqui a
palavra ainda não tem tanto poder e as acções emocionais variam de modo limpo,
entre isolamento, birra, choro, agressividade, euforia e conformação em relação
à atitude do outro. Uma das grandes diferenças entre o Adulto e Criança é que o
corpo da criança fala claramente o que sente, enquanto o adulto manipula o seu
corpo treinado para fingir estados emocionais em momentos interpretados.
0 comentários:
Enviar um comentário