“Estarei eu a encontrar uma cura? Nop, apenas penso no que faço e tento corrigir comportamentos” 

Quando duas pessoas procuram comunicar, esse processo vai para além das palavras. A frase já feita sobre “As palavras mentem, o corpo não” é demonstrativa do poder que existe na forma como toda a nossa expressão corporal se pode moldar com base nos acordes emocionais dados pelo nosso grande mestre de processamento - o cérebro. A passagem de informação pelo uso da linguagem falada é sem dúvida um instrumento valioso, o “falar” e a sua escala de aquisições ao longo do desenvolvimento, são uma fonte rica de recolha de informação para entender diferentes etapas do desenvolvimento. A comunicação verbal e o seu sucesso, depende da compatibilidade entre aquilo que está a ser dito pelo emissor e aquilo que é entendido pelo receptor da mensagem.

As sessões tinham início e as preocupações eram evidentes, o menino produzia sons constantes e essas vocalizações surgiam sem grande intencionalidade. O som produzido parecia ser ponte para segurança e maior conforto dele no mundo. Esta segurança pode ser explicada pela ocorrência de comportamentos “concretos” - “Eu faço e acontece como quero”. Se antecipo o acontecimento o meu corpo está preparado a receber a informação que havia planeado, se este não acontece então tem de haver uma re-adaptação ao mesmo. A sensação desagradável entre o que planeamos e o erro do sucesso é o que faz as pessoas seguirem a sua rotina. Mas focando no menino, este encontrava-se a procurar estabelecer relações concretas e eu ajudei a fazê-lo, mas com um objectivo em mente - “quebrar o mundo concreto”. 

Aos poucos fui testando a minha aproximação com a criança, trabalhando um vínculo, o conforto e espaço suficientes para abrir a relação. A sessão era composta por tarefas (jogos e brincadeiras) que foram ganhando forma, forma essa  que passou a ser entendida pelo menino. Os movimentos que o menino fazia já eram antecipadas por mim, o que me deu o controlo da sua intenção. Ao encontrar um acontecimento (input) que leva à produção de um movimento (output), foi a minha chave de entrada para mediar processos mentais (processamento). O meu objectivo passou por gerar relações entre aquilo que eu queria como “output” e o reforço ao mesmo “Condicionamento clássico - Pavlov”. O menino não produzia sons de palavras, balbuciava combinando consoantes e vogais (como "dada" ou "papa”), mas as relações entre a sua utilização intencional não era muito concreta. 


O Jogo era composto por um leão em desenho que ora estava triste, ora estava contente. O menino tinha o controlo da forma do leão. Na posição de triste, eu confirmava verbalmente “Ohh triste, está triste” - fingindo o choro, enquanto na posição feliz “eheh feliz, ele está feliz” - fazendo cócegas e rindo-me.  O menino ria à gargalhada mas procurei dar tempos de espera para exigir que ele me pedi-se para repetir (outputs). Esses sinais de pedido foram evidentes e o menino queria mesmo que eu fizesse o retorno da brincadeira, apontava, fazia contacto ocular, sorria e por último no meio da brincadeira soltou uma palavra dizendo “Triste” sorrindo.

Em suma, todo o resto do mundo à volta da criança encontra-se moldado sem relações óbvias de acontecimentos, aos quais as relações entre pessoas e objectos são difíceis de antecipar. A palavra dita pode não ter relação com o seu significado, mas seguramente tem relação com a brincadeira. Mas mais importante foi compreender que a percepção auditiva está igual, bem como a capacidade de formular a palavra falada, levando-me a entender que todos os circuitos neuronais implicados nesta função estão a funcionar. 

Digo triste mas estou contente, falo para que me compreendam mas por vezes temos que observar para entender o outro.





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