Enquanto Psicomotricistas, muitas das vezes somos
encaminhados para avaliar e intervir em crianças com problemas de
comportamento. Crianças essas que são referenciadas como destruidoras dum seio
escolar estável e que prejudicam todo o rendimento de aprendizagem de um grupo.
A perturbação do comportamento é uma conduta
destrutiva, agressiva e/ou desafiadora. É uma conduta que se caracteriza por
comportamentos padronizados anti-sociais; agressivos e desafiantes; de violação
de regras parentais e de normas sociais. As atitudes de uma criança com
perturbação do comportamento, não é apenas um pequeno incumprimento, ou como
uma tentativa isolada de extravasar os limites de forma não consistente, o
factor primordial é a sua desadequação repetitiva (Silva, 2008). Segundo Klein, (1970 in
Sousa, 2008) a agressividade condiciona o funcionamento psíquico que gera a
delinquência e o comportamento anti-social na vida adulta, constituindo um
processo que está estreitamente ligado ao desenvolvimento infantil.
Na fase da avaliação é comum proceder-mos à recolha
de dados sobre a criança ao nível da Anamnese e aplicando escalas de Avaliação
sobre Competências Sociais. A segunda dá-nos a confirmação do problema e são
valores a utilizar mais tarde para fundamentar o progresso da criança, dando
clareza à nossa intervenção. A primeira dá-nos grande parte das vezes casos de
crianças que tiveram um crescimento em ambientes pobres de relação e onde uma referência
materna ou de vinculação não são seguramente positivas.
Ao nível das Neurociências, muitas das vezes são
utilizados modelos animais que nos apoiam a encontrar mecanismos
neurobiológicos que justificam determinadas perdas ou conquistas de
comportamentos. Existem vantagens pela possibilidade de recolha do tecido
cerebral e pela posterior análise genética, bioquímica ou técnicas de
imagiologia.
Nos animais muitas das vezes simulam-se ambientes
para induzir novos comportamentos. Do ponto de vista comportamental cito Fone e
Porkess (2008) onde verificou que ratos filhotes que eram criados num contexto
isolado e de desapego, evitando o contacto social com membros da mesma espécie,
produzem um conjunto de mudanças comportamentais. Estes tornam-se neofóbicos,
agressivos e com reduções acentuadas no volume cortical do lobo pré-frontal e
do hipocampo.
Ratos machos criados em isolamento demonstram um
perfil ansiogénico ligeiramente mais elevado e têm respostas
mais agressivas, juntamente com uma maior libertação
de acetilcolina e corticosterona, fase a uma resposta de stress
(Weiss et al., 2004 in Fone e Porkess, 2008). De acordo com Weiss e
Feldon (2001 in Fone e Porkess, 2008) o isolamento vai levar a que os ratos
machos tenham um maior défice na inibição dos impulsos de sobressalto fase a um
stress acústico.
As neurociências também se estendem aos humanos e as
nossas intervenções em psicomotricidade podem facilmente mostrar grandes
contributos. Um estudo desenvolvido por uma equipa de Intervenção Precoce pela
Sheridan e Nelson (2011) compararam três grupos de crianças entre os 8 e os 11
anos de idade: 29 tinham sido criados numa instituição, 25 viverem em casas de
acolhimento e 20 nunca tinham estado numa instituição. Na ressonância
magnética, as crianças institucionalizadas apresentaram menos volume de
substância cinzenta no córtex cerebral em relação às que tinham viveram em
famílias de acolhimento. Ao nível do volume de matéria branca, esta também foi
menor em crianças institucionalizadas, em comparação aos restantes grupos.
Para aqueles que ainda preferem seguir mais fundo e
entrar em mecanismo mais celulares e moleculares, fica aqui um ultimo tópico mais
relacionado com neurotransmissores. A Dopamina envolvido com grande relevo nos
circuitos cerebrais do prazer e recompensa. O crescimento isolado provoca todo
um conjunto de mudanças neuroquímicas no cérebro neuroquímica. Alguns grupos têm relatado que
criação de isolamento aumenta volume DA basal na Amgidala
e no Núcleo de Acumbens (Heidbreder et al., 2000).
Ratos em crescimento isolado apresentam uma
deficiência no desenvolvimento do quadro de Polidipsia induzida
(sensação exagerada de sede), que tem mostrado estar dependente da
exagerada actividade dopaminérgica da via meso-límbica, mais especificamente
no NAcc (Jones et al., 1989 in Fones e Porkess, 2008).
Curiosamente, segundo Heidbreder et al. (2000) a
quantidade de dopamina liberta ao nível do córtex pré-frontal medial (PFC medial)
está diminuída, este é uma modificação semelhante que acontece em pacientes com
esquizofrenia.
A serotonia
(5-hidroxitriptamina, 5-HT) é um dos neurotransmissores que possui um papel
importante na neurobiologia do comportamento agressivo. Estudos têm demonstrado
que níveis elevados de serotonina conduzem a uma diminuição da agressividade em
muitas espécies diferentes incluindo a espécie humana.
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