Truz truz, aqui vamos nós para mais uma sessão. A temática de hoje prende-se com as dificuldades de aprendizagem na Leitura, a famosa Dislexia.
Já em 1986 este tema
era fruto de investigação e de acordo com os trabalhos de Galaburda, foi
possível verificar em estudos pós-morte, que existiam zonas no neo-cortex de
sujeitos com dificuldades na leitura que tinham ectopias. Mais recentemente,
temos o trabalho do E. Paulesu et al, (2001) (Revista Science) que demonstrou
que esta dificuldade era sentida em diferentes línguas, no entanto as
estruturas cerebrais envolvidas, eram exactamente as mesmas. Ainda outro achado
curioso é de Finn ES et al, 2014 (Revista Biol Psychiatry) que demonstrou com ajuda da técnica de Ressonância
Magnética Funcional que quando leitores fracos, conseguem depois obter uma
leitura fluente, não utilizam as mesmas áreas cerebrais que os leitores sempre
bons, levando à presença de sistema de activação cerebral compensatório.
Ora bem, mas vamos lá contextualizar a lágrima. A sessão foi iniciada com uma corrida de saltos em arcos, tínhamos que rapidamente entrar e sair dos mesmos ao mesmo tempo somávamos e subtraímos pontos. O menino desempenhou facilmente a tarefa e resumidamente ele tinha que reter a informação dos pontos (meus e dele), depois tinha que adicionar mais valores à medida que íamos avançando no jogo e no final ainda tinha que ouvir atentamente a informação de qual seria a sua cor do arco e correr até ele. No final do jogo, pedi-lhe que fechasse os olhos e me disse-se a localização dos arcos, e acertou correctamente em tudo (Boa memoria de trabalho!).
De seguida, fomos para a mesa e realizamos exercícios de reconhecimento
de letras, formação de silabas, distinção perceptiva de letras semelhantes,
sopa de letras, bem como um jogo de consciência fonológica e morfológica. O
menino, sempre atento, conseguiu ir desempenhando as tarefas com alguns altos e
baixos. No final, de modo a fazer a ponte para o sucesso desejado (A leitura em
voz alta para outra pessoa), dei-lhe duas palavras para ele ler à professora. Nisto,
seus olhos encheram-se de lágrimas e ele entre dentes disse “Não consigo”.
Aspectos importantes a retirar. O contexto de aprendizagem na sessão é o ideal, o menino sente confiança para falhar junto do terapeuta, vê aquele espaço como sendo seguro e acima de tudo vê-me como alguém que o está a tentar ajudar e que compreende o seu problema. Parte má, se o menino chora é porque reconhece a dificuldade, sente que está em desvantagem para com os outros colegas, queria ser melhor, sente que se está a esforçar e que ainda tem um caminho longo pela frente. Associado à tarefa sente ainda um pico de stress e de medo quando colocado na posição de ter que ler, que só irá alimentar o crocodilo da leitura.
Em suma, é preciso aos poucos ir mostrando que o crocodilo está lá mas
que cada silaba certa, cada letra bem identificada e cada sorriso retirado num
momento de leitura são a chave para combater esse animal.
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